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Histórias de Moradores do Jardim São Luís

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores do bairro.


História do Morador: Luiz Felipe Lima e Silva
Local: São Paulo
Data: 16/05/2014

Vídeo: “Você não é ninguém se não tem uma história para contar”


Sinopse:

Luiz Felipe é um corintiano fanático que adora futebol. Em seu depoimento, ele lembra a mudança da família para São Paulo aos quatro anos. Recorda quando se tornou corintiano aos 14 anos após a derrota do Corinthians para o Palmeiras numa Libertadores. Fala sobre como gostava de jogar futebol, sobre o primeiro emprego e sobre a separação dos pais. Ao conhecer Priscilla, apaixonou-se perdidamente e mesmo sendo de times rivais, o amor pelo futebol os uniu. Por fim, fala sobre o casamento realizado no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

História

Nasci em Niterói, Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1985. Meus pais são do Rio, meu pai é de Níterói e minha mãe é de São Gonçalo. Toda minha família hoje ainda mora no Rio de Janeiro. Tem uma parte de Portugal, mas a gente nunca explorou, porque eu nunca tive muito contato com meus bisavós. Meus avós por parte mãe ainda são vivos, só faleceu meu avô por parte de pai, a minha avó também, por parte de pai também continua viva. Meu pai ele se formou em Farmácia. Ele começou a atuar em um laboratório no Rio de Janeiro, ele foi transferido para São Paulo quando eu tinha quatro anos, viemos eu, ele e a minha mãe. E até hoje ele continua ainda atuante na indústria farmacêutica. Sou filho único de pai e de mãe. Eu lembro muito de eu brincando com meus primos. Eu lembro da mudança em si, do caminhão, do estarmos indo para São Paulo. A gente mudou primeiro para Interlagos, numa travessa próxima à Avenida Interlagos, ali Interlagos, Nossa Senhora do Sabará, ali para perto. É um condomínio de um prédio só, um único prédio, se não me engano eu morava no quarto andar. Eu lembro que tinha dois meninos que eram mais velhos, na época eu tinha oito, eles deviam ter 12, o que já era bem diferente, e tinha mais um menino que era mais ou menos da minha idade. Então, éramos nós quatro, a gente que sempre brincava junto. Eu comecei a estudar na verdade no Rio de Janeiro, em torno de dois, três anos. Cheguei a estudar lá em duas escolas e eu vim para São Paulo. A primeira escola que eu estudei em São Paulo se chamava Exato, que era lá em Interlagos também. Depois eu mudei para mais umas duas escolas, onde eu acabei me formando depois. Eu tenho um apelido de terceira série, que é Godô, que me acompanha até hoje, tem os que me conhecem como Luiz Felipe e tem os que me conhecem como Godô.

Eu realmente me assumi corintiano quando teve a eliminação do Corinthians pelo Palmeiras na Libertadores. Eu tinha 14 anos. O meu pai é flamenguista. Meu pai viu o Zico jogar no Maracanã, então, era uma fase de ouro, tinha a geral, meu pai ficava naquela bagunça toda. Então, eu cresci, na verdade, sendo flamenguista, mesmo vindo para São Paulo. Com cinco anos, eu tenho ainda foto comemorando com camisa do Flamengo, bem pequeno, influência dos pais e tudo o mais. Quando eu vim para São Paulo eu mantive essa coisa, todo mundo perguntava: “O que você é?” “Eu sou Flamengo. Sou Flamengo, sou Flamengo.” E, anos depois um vizinho queria começar a influenciar, que ele era são-paulino, comprou um uniformezinho do São Paulo para eu usar “usa aí”. E meu pai muito camarada naquela época: “Põe filho,” as cores eram parecidas, porque o Flamengo, querendo ou não, é rubro negro, que seria um preto e vermelho, mas tem uma pitadinha branca, e o São Paulo é o tricolor, são cores parecidas, eu tentei usar, tentei usar, eu usava aquilo e: “Pai, não gosto, está me incomodando, não quero ser são-paulino, não quero” “Não filho, mas é legal” “Mas eu não quero, eu não quero, eu não quero.” Muito engraçado, mas não batia a minha identidade com a do São Paulo. E eu via alguns corintianos sofrendo e aquele sofrimento começou a querer também fazer parte de mim, e quando eu chorei muito por causa da eliminação do Corinthians naquela Libertadores, eu realmente percebi que eu era corintiano. E é uma questão, realmente, de identificação.

A gente se mudou para o Jardim São Luís, que é próximo ali ao começo da Giovanni Gronchi, que a gente já começa a chamar ali de Morumbi. Eu morei ali com meus pais até eles se separaram, até os 13. Eu voltei para morar com o meu pai, eu basicamente morei ali até casar, que já foi com 27 anos. Para mim, no começo, foi um pouco difícil. Porque a gente volta para 1999, foi quando eles realmente se separaram. Meu pai tinha uma outra mulher e minha mãe também tinha uma outra mulher. Essa foi a primeira dificuldade, aceitar o homossexualismo na minha família naquele momento, a gente não está falando de 2009, está falando de 1999. Naquele tempo era muito mais preconceito, as pessoas eram muito mais homofóbicas, era muito mais difícil de você ver e aceitar situações como essa. Com 13 para 14 anos foi difícil aceitar esse baque, minha mãe vive com uma outra pessoa, minha mãe escolheu também uma outra mulher, essa foi a primeira dificuldade. Eu não fui morar com a minha mãe, eu fui morar com meu pai. Só que isso não durou muito tempo. Um ano depois eu caí na real, tipo, não importa, porque foi um conflito interno muito difícil. Com uns 15 anos eu caí na real: “Pô meu, é minha mãe, não importa as escolhas dela, cara. Eu amo a minha mãe, é a minha mãe, eu quero ficar ao lado da minha mãe, dane-se a outra pessoa. Se a outra pessoa não me quiser, dane-se ela também. Eu quero ficar do lado da minha mãe.” E a gente restabelece tudo o que a gente teve, de vínculo, por uma infância inteira. Eu voltei para morar com a minha mãe quando eu tinha 18.

O que eu fiz dos oito aos 16, foi jogar bola, isso foi uma constante na minha vida, porque esporte é uma coisa que eu sempre gostei. Com 16 anos meu pai parou de me incentivar, querendo que eu ficasse só estudando, ainda tentei ainda um ano virar um profissional, porque eu até que jogava bem, mas sem o apoio de casa acabou que não deu certo. Acho que o que eu fiz de errado foram algumas escolhas, como eu não tinha um pai por perto eu comecei a fumar, comecei a fumar muito novo, eu tinha 14 anos eu já fumava cigarro, com 16 anos eu comecei a beber um pouco mais, com 17 anos eu fumava maconha. A gente saía e se reunia muito na casa das pessoas. Eu escolhi com 17 anos fazer Jornalismo, fiz três anos, eu parei o jornalismo. Eu fiz na Anhembi Morumbi. Parei porque eu não me via atuando na área, gostava de algumas coisas, mas não me via aprofundado nas profissões que Jornalismo poderia me dar, assessoria, jornalismo esportivo, nada disso me causava uma plenitude e eu acabei saindo. O melhor momento realmente profissional para mim começa a partir dos 22, que é quando eu paro de tentar o Jornalismo e entro em Administração. A Administração mudou até a minha cabeça, de ver, pensar o que é uma empresa, o que é uma corporação, o que é você como indivíduo inserido nessa corporação, dali as coisas mudaram, eu peguei realmente o rumo. Me formei nisso, atuei em multinacional, muito por conta dos meus pais atuei no mercado farmacêutico. Minha esposa hoje também é do mercado farmacêutico. Atuei uns cinco anos nisso até que eu saí para ter meu próprio negócio, hoje eu tenho meu próprio negócio.

Meu primeiro emprego. A primeira coisa que eu lembro de trabalho, de troca mesmo, foi feira. Tinha um grande amigo meu de adolescência que o tio dele era feirante. E eu lembro que a gente queria, um desses momentos foi: “Putz, queremos muito ir no show do Charlie Brown Júnior,” que ia ter no final de semana, só que a gente não tinha dinheiro, o tio falou: “Ah, trabalha para mim dois dias que eu dou o dinheiro para vocês irem para o show, cada um compra sua entrada, ida e volta e para vocês tomarem alguma coisa,” Super negócio. Trabalhamos uma quinta inteira, uma sexta-feira inteira, rimos muito porque na época eu tinha 16 anos. Para mim não era um trabalho, era uma diversão, para falar a verdade. Esse foi o meu primeiro trabalho.

Eu fui trabalhar, quando na verdade eu saí de casa aos 18 anos, por conflito com meu pai, saí de casa, fui morar com a minha mãe. Menos de um ano depois a minha mãe me botou para fora, fui morar de favor na casa de um amigo. Nesse momento, eu descobri duas novas atividades na minha vida, 18 anos, uma delas foi trabalhar em bar, eu trabalhei como bartender durante cinco anos quase, dos meus 17 aos 23 eu fiquei fazendo isso. Eu continuei morando com ele por uns três meses, meu pai descobriu que eu estava morando lá, que eu não estava morando com a minha mãe, e fez uma oferta para eu voltar a morar em casa. Porque nesse momento que eu deixei de morar com meu pai, meu pai deixou o apartamento também para viver com a ex-mulher dele. Ele falou: “O apartamento está lá, volta para lá.” Eu voltei para ficar morando sozinho no apartamento. Eu morei dois anos sozinho no apartamento, até que meu pai depois voltou para morar comigo no apartamento.

A Priscila, na verdade, a gente estudou no mesmo colégio, a gente jogava pebolim juntos, ela era boa de pebolim. A gente fazia muita dupla, ela é dois anos mais velha do que eu, a gente jogava muito pebolim, ela saiu do colégio e eu estudei com o irmão dela, meu cunhado hoje. Uns 12 anos depois que a gente já não se via mais, ela me adicionou no Facebook, eu não lembrava dela, e começamos a conversar. Ela começou a curtir umas fotos, eu curtia outras e comentários, a gente começou a se falar um pouco mais. Teve um jogo do Corinthians contra o Tolima, que foi uma pré-Libertadores, o Corinthians foi jogar e eu falei: “Não, Corinthians vai ganhar, não tem como o Corinthians perder,” ela: “Não, o Corinthians vai perder,” e apostamos uma garrafa de vodca, e eu perdi a garrafa de vodca e tive que pagar. E fiquei dois meses enrolando ela para pagar essa garrafa de vodca, resolvemos que: “Vamos pagar, você está me enrolando” “Tá bom, vamos então. O que você quer fazer? Quer sair para me encontrar?” Acho que vai ficar muito na cara. E a gente marcou um churrasco. Organizamos o churrasco, chamamos um monte de corintiano, chamamos um monte de são-paulino e teve o jogo do Corinthians e São Paulo nesse dia. Bom, Corinthians perdeu, mas eu saí vencedor, porque foi nesse dia que a gente acabou ficando, a gente deu o nosso primeiro beijo, dia 27 de março de 2011. O Corinthians tinha quatro anos que não perdia do São Paulo e perdeu, o Rogério Ceni fez o seu centésimo gol, tudo nesse dia, e desse dia em diante a gente nunca mais se desgrudou. Acho que de lá para cá, se a gente ficou 15 dias sem se ver foi muito, a gente se via direto, direto.

O casamento foi incrível. Eu estava muito nervoso, não achei que fosse ficar tão nervoso. Foi engraçado que tinha um pessoal filmando com a gente no dia e eu estava muito nervoso, muito mesmo, de tremer. E eu cheguei lá, tive que dar reportagem também, que tinha gente de outra emissora querendo falar comigo e eu tremendo, super nervoso. Mas quando eu cheguei lá, que eu vi a preparação que eles tinham feito, eu fiquei até um pouco mais calmo, porque a minha preocupação era essa, como ia estar tudo organizado no Pacaembu para um casamento. E eu cheguei, vi que estava tudo bem organizado, tudo como a gente previu, na verdade, a gente não queria nenhum luxo, porque o maior luxo que a gente poderia ter no nosso casamento era o local. Não ia ter uma coisa mais grandiosa do que o Pacaembu naquela festa, não tinha como, não era possível, você podia chamar dez ex-jogadores, não ia ser maior do que o Pacaembu. Ele já tem história, ele já é grandioso, foi tudo muito simples em vista do local, mas foi tudo do jeito que a gente queria, foi perfeito, foi lindo, ter as fotos que a gente tem, as recordações que a gente tem, a repercussão que a gente teve, foi tudo demais. Eu aprendi que você não é ninguém se você não tem uma história para contar e, graças a Deus, a gente tem esse pedaço de história juntos, não sou só eu, não é só ela, juntos. Uma história curta, nossa, ainda, mas com grandes episódios, eu acho que é muito marcante, é muito glorificante.

A primeira Copa que eu lembro, na verdade, é de 94, que eu tinha oito para nove anos e estava no Rio de Janeiro de férias. Eu lembro da disputa de pênalti na sala com outras 15 pessoas da família e todo mundo vibrando aquele título. A decepção de 98 porque nós perdemos na final para França e eu já sabia mais o que era o futebol, eu chorei, aquilo dali para mim foi difícil aceitar aquela derrota, parecia uma derrota do seu time. Em 2002 foi aquela copa boa e chata porque foi em Tóquio, então os jogos aqui eram todos de madrugada, nem sempre você acompanhava o jogo, porque ele era de madrugada.

Não foi uma copa do brasileiro realmente acompanhar e tudo o mais, mas foi uma copa muito legal, 2006 nós não tivemos sorte. Em 2010 nós também não tivemos sorte, mas eu sou daquele assim, jogo da Seleção, se possível eu não trabalharia, pinto a cara, festa em casa, vamos fazer almoço, vamos reunir gente, porque a Copa do Mundo ela traz pessoas para torcer e ficar na frente de uma televisão, que normalmente elas não ficam, de domingo a mulher não vai ficar sentada no sofá assistindo o jogo se ela não gosta, agora, se for da Seleção, a chance dela assistir a esse jogo é muito maior. Então a chance de você reunir realmente a família para assistir um jogo é muito mais legal, as pessoas se comovem.

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